sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Gill Scott-Heron, escritor, cantor e compositor (1949 - 2011)

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"Sou um negro dedicado à expressão: expressão do prazer e de orgulho da negritude. Não me considero poeta, compositor ou músico. São meras ferramentas usadas por caras sensíveis para esculpir uma peça bela e verdadeira, que eles esperam conduzir à paz e à salvação".

Assim Gil Scott-Heron se apresentava em "Small Talk At 125th And Lenox" (70), seu álbum de estréia. Nada mal para um jovem escritor que aos 19 anos lançou o conto "The Vulture" ("O Abutre"), seguindo por uma coleção de poemas (com o título que daria ao disco) e outro livro, "The Nigger Factory" (algo como "A Fábrica de Crioulos"). Os temas? Combate ao racísmo e críticas ferinas ao consumismo, ao poder das mídias e às aspirações medíocres da classe média americana. Só isso faria dele um precursor do rap, mesmo a não se levar em conta que foi o pioneiro nesse estilo de canto "falado".

Nascido em Chicago e criado no Tennessee, o cara acabou no Bronx, violento bairro de Nova York, onde foi forjar sua revolta diante da miséria do gueto. Mas, ao invés de bandidagem, ele preferiu usar a poesia como arma. Ganhou uma bolsa para Universidade Lincoln, na Pennsylvania, desenvolvendo a militância anti-racista, a verve literária e a paixão pela música negra, do blues ao soul, passando - principalmente - pelo improviso intuitivo do jazz. Uma influência vinda de Brian Jackson, colega pianista de quem se tornou parceiro. A esta altura, Gil já lançara "Small Talk...", com seus vocais proto-rap e percussão afro - em faixas como "Whitey On The Moon", "No Knock", "Brother" e "The Revolution Will Not Be Televised" (contundente poema de protesto, regravado por grupos como The Last Poets e LaBelle).

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Bob Thiele - dono do Flying Dutchman, selo que editou o disco - chapou com os versos afiados de Gil aliados ao fino som da banda de Jackson: Pretty Purdie (o baterista) And The Playboys - com feras como Hubert Laws (flauta/sax) e Ron Carter (baixo). Acabou gravando um segundo álbum - em apenas dois dias - que começava com um arranjo definitivo para "The Revolution..." ("Você não será capaz de ficar em casa, brother.../A revolução não será televisionada/A revolução não terá reprise, brother/A revolução será ao vivo!"). Abordava dilemas nas relações familiares ("Home Is Where The Hatred Is", a faixa título) e amorosas ("When You are Who You Are"), além de conter baladas inspiradas em Marvin Gaye ("Save The Children", "I Think IÕll Call It Morning") e um tributo ao sax de um de seus heróis ("Lady Day And John Coltrane")... Em 72, Gil faria "Free Will", como "Sex Education: Ghetto Style", The Get Out Of The Ghetto Blues" e "Did You Hear What Thay Said?". Depois mudou de gravadora e teve certa projeção com canções como "The Bottle", "Johannesburg" e "We Almost Lost Detroit". Sua associação com Jackson - chamada de Midnight Band - durou até o fim dos anos 70, quando as suas apresentações tornaram-se esporádicas e Gil passou a dividir o tempo entre a música, a literatura e o jornalismo.
O trabalho do Scott-Heron tornou-se inconstante, mas seus lemas de liberdade e não conformismo permaneceram perenes, pautados na inteligência e no refinamento. A anos-luz da truculência explícita do gansta rap ou das variantes do estilo. O lamentável é que, com com toda essa onda jazz rap/acid jazz etc., o cara mantenha-se pouco conhecido - e não reconhecio como um dos seus maiores criadores. 

Celso Pucci (Revista Bizz, edição 105,Abril de 1994)


DISCOS
  • Small Talk at 125th & Lenox Ave (1970)
  • Pieces of a man (1971)
  • Free Will (1972)
  • Winter in America (1974)
  • The Revolution will not be Televised (1974)
  • The first minute of a new day - The Midnight Band (1975)
  • From South Africa to South Carolina (1975)
  • It's your world (1976)
  • Bridges (1977)
  • Secrets (1978)
  • The mind of Gil Scott-Heron (1979)
  • 1980 (1980)
  • Real eyes (1980)
  • Reflections (1981)
  • Moving target (1982)
  • The best of Gil Scott-Heron (1984)
  • Tales of Gil Scott-Heron and his Amnesia Express (1990)
  • Glory - the Gil Scott-Heron collection (1990)
  • Minister of Information (1994)
  • Spirits (1994)
  • The Gil Scott-Heron collection sampler: 1974-1975 (1998)
  • Ghetto Style (1998)
  • Evolution and Flashback: The Very Best of Gil Scott-Heron (1999)
  • I'm New Here (2010)
LIVROS
  • Small Talk at 125th and Lenox: a Collection of Black Poems. World Publishing Co., New York 1970
  • Abutre Conrad Editora, São Paulo 2003,
  • The Nigger Factory. Dial Press, New York 1972,
  • So Far, So Good. Third World Press, Chicago 1990,
  • Now and Then: The Poems of Gil Scott-Heron. Canongate Publishing Ltd., Edinburgh 2001
Fonte: Wikipedia


Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

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