quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Sidney Cerqueira, artista plástico


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"Para quem não sabe, eu sou da Guiné-Bissau... Todos os sinais que tenho nas canelas foram feitas a jogar a bola nas estradas de Bissau e sou um jovem artista plástico que teve a sorte de viajar um pouco pelo mundo a tentar levar, sempre, o bom nome da Guiné-Bissau, assim como muitos fazem”.

Sidney Cerqueira é um jovem carismático e reconhecido artista plástico guineense, cujas obras já alcançaram proporções imensuráveis pela beleza, graça e movimentos que dão um tom particular ao seu trabalho.

Desde muito cedo, o talento desponta, inato ou instigado por influências familiares, o certo é que dos simples traços a lápis, mais tarde a cores, surgem silhuetas e paisagens que saltam à vista, despertando a atenção, mesmo dos menos entendidos na matéria. 

Aliás, na arte deste jovem autodidacta, o que se depreende não é propriamente a mestria de técnicas sofisticadas, mas a força da metáfora. O sentimento do artista está plasmado em cada traço, em cada pincelada, em cada tom, e sente-se-lhe o cheiro. O cheiro da terra molhada pelas intensas chuvas da sua Guiné, do suor dos expressivos rostos das suas gentes, da face lavada pelas lágrimas da criança que sonha com um amanhã melhor. Sidney Cerqueira não escamoteia a realidade de uma terra que o viu nascer e que ele tanto ama, exorciza, sim, através da sua arte, a dor de um filho que escolheu esta arte para encurtar a ausência. Para eternizar os dois lados de uma realidade que lhe vinca a alma. 

O pincel anda “À Deriva” como que uma jangada no Alto Mar, em busca da luz de um farol para onde outrora alguém apontou. Das lágrimas aos sorrisos, as expressões do artista rasgam as telas para nos sussurrar aos ouvidos de que sim, tudo é real. Até o imaginário. Mas este sentimento do artista não se limita ao seu universo natal. É cosmopolita, como a “Fé” de homens tão diferentes, mas iguais nessa essência da humanidade, em busca de algum sentido que comande esta viagem. Tão Universal que não desvia o olhar da realidade global, como se pode ver na “Introspecção”, uma alusão aos recém – licenciados no desemprego à espera de uma oportunidade que tarda em chegar. 

Realidades as que não se pode estar indiferente. O poder interventivo é, aliás, uma das forças das mensagens plásticas de Sidney Cerqueira. Mesmo quando, já no campo figurativo, viaja até aos símbolos que marcaram a humanidade, o artista fá-lo de uma forma singular, deixando a marca colorida – ou não – de um sentimento adjacente à mensagem. A expressão de uma mensagem que, mesmo impalpável, sente-se. Como nos versos do poeta que finge, “ tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente”. 

Texto obtido no perfil Facebook do artista:

Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

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