Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu
no Rio de Janeiro a 13 de maio de 1881 e morreu na mesma cidade a 1.°
de novembro de 1922. Filho de um tipógrafo da Imprensa Nacional e de
uma professora pública. Foi iniciado nos
estudos pela própria mãe, que perdeu aos 7 anos de idade.
Fez seus primeiros estudos e, pela mão
de seu padrinho de batismo, o Visconde de Ouro Preto, ministro do
Império, completou-os no Ginásio Nacional (Pedro II), entrando em
1897 para a Escola politécnica, pretendendo ser engenheiro. Teve,
porém, de abandonar o curso para assumir a chefia e o sustento da
família, devido ao enlouquecimento do pai, em 1902, almoxarife da
Colônia de Alienados da Ilha do Governador. Nesse ano, estréia na
imprensa estudantil. A família muda-se para o subúrbio do Rio de
Janeiro, Engenho de Dentro, onde o futuro escritor resolve
candidatar-se a um cargo vago na Secretaria da Guerra, mediante
concurso público, tendo passado em 2.° lugar e ocupado a vaga, por
desistência do 1.° colocado, 1903.
Com o modesto salário, passa a residir
com a família em Todos os Santos, em casa simples, e na qual, em
1904, inicia a primeira versão do romance "Clara dos Anjos". No ano
seguinte começa o romance "Recordações do escrivão Isaías
Caminha", publicado em Lisboa em 1909. Publica, também, uma série de
reportagens no jornal Correio da Manhã. Inicia o romance "Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá", publicado apenas em 1919. Colabora na
revista Fon-Fon e, com amigos, lança em fins de 1907 a revista
Floreal, que sobreviveria com quatro números apenas, mas que chamou
a atenção do crítico literário José Veríssimo. Nessa época,
dedica-se à leitura na Biblioteca Nacional dos grandes nomes da
literatura mundial, dos escritores realistas europeus de seu tempo,
tendo sido dos poucos escritores brasileiros a tomar conhecimento e
ler os romancistas russos.
Em 1910, faz parte do júri no
julgamento dos participantes do episódio chamado "Primavera de
Sangue", condenando os militares no assassinato de um estudante,
sendo por isso preterido, daí para frente, nas promoções na
Secretaria da Guerra. Em 1911, em três meses, escreve o romance "Triste fim de Policarpo Quaresma", publicado em folhetins no Jornal do
Comércio, onde escreve, e também na Gazeta da Tarde. Publica, em
1912, dois fascículos das "Aventuras do Dr. Bogoloff", além de dois
outros livretos de humor, um deles pela revista O Riso.
O vício da bebida começa a
manifestar-se nele, porém não o impede de continuar a sua
colaboração na imprensa, iniciando em 1914 uma série de crônicas
diárias no Correio da Noite. O jornal A Noite publica em folhetins,
em 1915, seu romance "Numa e a Ninfa", e Lima Barreto inicia longa fase
de colaboração na revista Careta, em artigos políticos sobre
variados assuntos. Nos primeiros meses de 1916 aparece em volume o
romance "Triste Fim de Policarpo Quaresma", que reúne também alguns
contos notáveis como "A Nova Califórnia" e "O homem
que Sabia Javanês", tendo boa acolhida por parte da crítica
que vê em Lima Barreto o legítimo sucessor de Machado de Assis.
Passa a escrever para o semanário político A.B.C.. Em julho de
1917, após internação hospitalar, entrega ao seu editor, J.
Ribeiro dos Santos, os originais de "Os Bruzundangas", somente publicado em 1922, um mês após a morte do autor.
Candidata-se à vaga na Academia
Brasileira de Letras, mas seu pedido de inscrição não é sequer
considerado. Lança a 2. edição do "Isaías Caminha" e, em seguida, o
romance "Numa e a Ninfa", em volume. Passa a publicar artigos e
crônicas na imprensa alternativa da época: A Lanterna, A.B.C. e
Brás Cubas, que publica um artigo seu, em que manifesta simpatia
pela causa revolucionária russa. Após o diagnóstico de epilepsia
tóxica, é aposentado em dezembro de 1918, mudando-se para outra
casa na Rua Major Mascarenhas, em Todos os Santos, onde irá residir
até morrer.
Em inícios de 1919, suspende a
colaboração no semanário A.B.C., por ter a revista publicado um
artigo contra a raça negra, com o qual não concordava. Põe à
venda o romance Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, por ele próprio
revisto e mandado datilografar pelo editor, Monteiro Lobato, tendo
sido o único de seus livros a passar por tais cuidados normais de
publicação, e pelo qual recebe bom pagamento e promoção, além do
aplauso de velhos e novos expoentes da crítica, como João Ribeiro e
Alceu Amoroso Lima. Nesse clima, candidata-se em segunda vez a uma
vaga na Academia de Letras - desta vez, aceita, -, não conseguindo,
porém, ser eleito, mas tendo o voto permanente de João Ribeiro. Sob
o título "As Mágoas e Sonhos do Povo", passa a publicar
semanalmente, na revista Hoje, crônicas ditas de folclore urbano,
reiniciando a colaboração na Careta, em segunda fase, só
interrompida por sua morte.
Em 1919, de dezembro a janeiro de 1920
é internado no hospício, devido a forte crise nervosa, resultando a
experiência nas anotações dos primeiros capítulos da obra O
cemitério dos vivos, memórias somente publicadas em 1953,
juntamente com as do “Diário Íntimo”, num mesmo volume. Em
dezembro de 1920, concorre ao prêmio literário da Academia
Brasileira de Letras para o melhor livro do ano anterior, inscrevendo
o Gonzaga de Sá, que veio a receber menção honrosa. No mesmo mês
é posto à venda nas livrarias o volume de contos “Histórias e
Sonhos”, e entrega ao editor F. Schettino, seu amigo, os originais
de “Marginália”, reunindo artigos e crônicas já publicados na
imprensa periódica e, que se perderiam, sendo o volume editado
apenas em 1953, post mortem.
“O Cemitério dos Vivos” tem um
trecho publicado, em janeiro de 1921, na Revista Souza Cruz, sob o
título "As Origens", memórias manuscritas não
completadas pelo autor. Em abril, faz uma viagem à pequena cidade de
Mirassol, no Estado de São Paulo, onde um médico amigo e escritor,
Ranulfo Prata, tenta a regeneração clínica de Lima Barreto, mas em
vão. Com a saúde já bastante abalada, a doença força a sua
reclusão na casa modesta de Todos os Santos, onde os amigos vão
visitá-lo e sua irmã Evangelina se desvela em cuidados por ele.
Mas, sempre que pode, continua a sua peregrinação pela cidade que
ama, reservando a leitura, a meditação e a escrita para casa,
apesar da presença constante da loucura do pai, tornada real pelas
crises cada vez mais repetidas.
Em julho de 1921, pela terceira vez,
candidata-se à vaga na Academia de Letras, retirando, porém, a
mesma, por "motivos inteiramente particulares e íntimos".
Entrega ao editor os originais de Bagatelas, no qual reúne a sua
maior produção na imprensa, ou seja, a que vai de 1918 a 1922, em
que evidencia com rara visão e clareza os problemas do país e do
mundo do pós-guerra. Bagatelas, entretanto, só apareceria em 1923.
Publica na Revista Souza Cruz de outubro-novembro de 1921 a
conferência "O destino da literatura", que não chegara a
pronunciar na cidade de Rio Preto, próximo a Mirassol. Em dezembro
inicia a segunda versão do romance "Clara dos Anjos", terminado em
janeiro seguinte. Os originais de Feiras e mafuás são entregues
para publicação, mas somente em 1953 seriam editados.
Em maio de 1922, a revista O Mundo
Literário publica o primeiro capítulo de "Clara dos Anjos", "O
carteiro". Tendo a sua saúde declinada mês a mês, agravada
pelo reumatismo, pela bebida e outros padecimentos, Lima Barreto
morre em 1.° de novembro de 1922, vitimado por um colapso cardíaco.
Em seus braços, é encontrado um exemplar da “Revue des Deux
Mondes”, sua preferida e que estivera lendo. Dois dias depois é a
vez de seu pai. Encontram-se sepultados no cemitério de São João
Batista, onde o escritor desejou ser enterrado.
Lima Barreto tem sido alvo de
estudos, tanto no Brasil como no exterior. Suas obras, romances e
contos, têm sido traduzidos para o inglês, francês, russo,
espanhol, tcheco, japonês e alemão. Teses de doutoramento o tiveram
como tema nos Estados Unidos e na Alemanha. Congressos e conferências
foram realizadas em todo o Brasil, por ocasião do seu centenário de
nascimento (1981), resultando inúmeros livros publicados, entre
ensaios, bibliografias e estudos psicológicos do autor e sua obra.
Principais obras:
Romances
Recordações do Escrivão Isaías
Caminha (1909); Triste fim de Policarpo Quaresma (1915); Numa e a
Ninfa (1915); Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919); Clara dos
Anjos” (1948).
Sátira
“Os Bruzundangas” (1923); “Coisas
do Reino do Jambom (1953).
Conto
Histórias e sonhos (1920); Outras
histórias e Contos Argelinos (1952).
Artigos e crônicas
Bagatelas (1923); “Feiras e Mafuás”
(1953); Marginália (1953; Vida Urbana (1953).
Outros
Diário Íntimo (memória) (1953); O
Cemitério dos Vivos (memória) (1953); Impressões de Leitura
(crítica) (1956); Correspondência Ativa e Passiva (1956).
Fonte:
www.xculturabrasil.org/limabarreto.htm
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