quarta-feira, 14 de maio de 2014

Erlon Chaves, maestro, compositor, arranjador, cantor e ator (1933-1974)

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Erlon Chaves nasceu em São Paulo,  capital, em  9 de dezembro de 1933. Começou a cantar na Rádio Cultura de São Paulo, quando tinha apenas dois anos de idade. Tinha cinco ou  seis anos quando apareceu na Rádio Difusora paulista e apresentou-se ao Homero Silva, pedindo para cantar no "Clube do Papai Noel', programa muito afamado na época. Foi logo aceito, pois além de cantar bem, apresentava-se com uma loirinha ainda menor, formando a dupla Café com Leite, por ser ele negro. Foi ator mirim no filme Quase no Céu
Começou seus estudos de música no Conservatório Musical Carlos Gomes, formando-se em piano, canto, harmonia e regência no ano de 1950. Estudou canto e harmonia, sendo orientado pelos maestros Luís Arruda Paes, Renato de Oliveira e Rafael Pugliese. Com a versão do calipso Matilda de Harry Belafonte, fez sucesso no final dos anos 1950. 

Estudou piano, compôs trilhas de filmes, novelas e jingles (incluindo o lendário “Já é hora de dormir”, dos Cobertores Parahyba). Gravou e fez turnê com Elis Regina. Bon-vivant, namorou Vera Fischer, então Miss Santa Catarina 1969, que conheceu quando era o jurado debochado do Programa Flávio Cavalcanti. Mas foi com a inesquecível parceria com Wilson Simonal que conquistou de vez o reino do suingue. Seus arranjos requintados e dançantes ajudaram a consolidar o soul jazz brasileiro. Mas foi no Rio que se consagrou como exímio arranjador e peça chave da nossa Música Popular Brasileira.

No início dos anos 60 trabalhou na TV Excelsior - canal 9, de São Paulo. Em 1965, foi para o Rio de Janeiro, indo para a TV Tupi - Canal 6 e a TV Rio - canal 13. Foi diretor musical da TV Rio, sendo um dos responsáveis e autor do Hino do Fic, música de abertura do Festival Internacional da Canção, em 1966. Em 1968 acompanhou a cantora Elis Regina, que iria se apresentar no Olympia, de Paris.

Com "Eu quero mocotó! Eu quero mocotó!", música de simplicidade quase infantil, Erlon Chaves e sua Banda Veneno colocaram abaixo o V Festival Internacional da Canção, realizado em 1970. O motivo não foi apenas o suingue da canção de autoria de Jorge Ben Jor, mas as performances criadas pelo escrachado maestro paulista.

Como sabia que a música não tinha profundidade para vencer um festival, Erlon resolveu causar impacto. Ora entrava vestido de marajá, ora vestido de xeque. Em uma das apresentações era abanado por dois homens portando plumas de avestruz. Mas no show final, ultrapassou todos os limites da decência da época. No clímax do show, era beijado e acariciado por diversas moças com roupas cor da pele. Pra chapa esquentar ainda mais, Erlon disse ao microfone que, sendo agarrado pelas gatas do palco, todas as mulheres ali presentes deveriam se sentir beijando-o. Sem contar o significado da gíria “mocotó”, apelido dado aos joelhos das moças e logo a outras partes protuberantes da anatomia feminina.

O maestro só não contava com a presença da esposa de um general da ditadura, então sob o comando de Emílio Garrastazu Médici. Horrorizada, logo pediu uma atitude contra o “negro abusado”. Acusado de assédio moral e obscenidade, foi levado a uma delegacia para prestar esclarecimentos e proibido de exercer suas atividades por 30 dias.
Erlon Chaves foi um dos mais notórios alvos de preconceito racial na história da música pop brasileira, ao lado de outros dois “crioulos atrevidos que não sabiam os seus lugares”: Simonal (acusado de ser informante da ditadura) e Toni Tornado (envolvido em imbróglio no mesmo festival por cerrar o punho como os Panteras Negras). Abalado emocionalmente após o episódio do FIC, nunca mais voltou a se apresentar ao vivo. 

Faleceu de um aneurisma cerebral em novembro de 1974, aos 40 anos, após passar mal em uma loja de discos no bairro do Flamengo. Comprava uma vitrola portátil para Simonal, então preso, quando iniciou uma acalorada discussão com um homem branco no interior da loja, por causa de uma injúria direcionada aos artista negros.  Segundo os médicos, a discussão ocasionou a sua morte repentina. 

Com o passar dos anos, foi alimentada uma história de que a morte teria sido ocasionada por uma discussão defendendo o seu soul brother. Seu enterro foi acompanhado por 3 mil pessoas, entre eles Flávio Cavalcanti, Bibi Ferreira, Martinho da Vila e Simonal (sob escolta da polícia).

O jornalista Artur da Távola foi dos raros a escrever sobre o maestro: “Ele sabia que eu não gostava do estilo pouco brasileiro dos seus arranjos. Mas sabia o quanto eu lhe admirava o talento dentro da discordância estilística. Sua morte doeu. E estou com uma enorme sensação de injustiça por só falar isso tudo agora que ele morreu.”

Em Santo André, no ABC Paulista, e em Maringá, no Paraná, o músico foi homenageado com nome em logradouros: Rua Maestro Erlon Chaves.

Discografia

1959 - Em tempo de Samba - Erlon Chaves e sua orquestra
1965 - Sabadabada
1965 - Alaíde Costa - participação como arranjador
1971 – Banda Veneno, de Erlon Chaves • Philips • LP
1972 – Banda Veneno Internacional – • Fontana • LP
 1973 – Banda Veneno internacional vol. 2 • Fontana • LP 
1973 – Banda Veneno internacional vol. 3 • Fontana • LP 
1973 – As dez canções medalha de ouro • Philips • LP 
1999 - Millennium: Erlon Chaves - Universal Music - reedição de suas gravações.
                            
 Temas de telenovelas
1966 - O Sheik de Agadir, da TV Globo, autor da música tema.
1966 - Eu Compro esta Mulher – TV Globo
1970 - Pigmalião 70 da TV Globo.
 Trilha Sonora de Filme
Na Mira do Assassinato, 
As Três Mulheres de Casanova, 
O Tesouro de Zapata, 
Juventude e Ternura,
Antes o Verão, Os Raptores, 
O Matador Profissional , 
Incrível, Fantástico, Extraordinário, 
É Simonal, 
Soninha Toda Pura, 
Procura-se uma Virgem, 
A Difícil Vida Fácil, 
Um Marido sem...ë como um jardim sem flores, 
A Filha de Madame Betina,
 Aladim e a Lâmpada Maravilhosa, 
Tem Folga na Direção

Destaque 
1973 - As dez canções medalha de ouro - Erlon Chaves e Paul Mauriat
Gravação feita só com músicas brasileiras, escolhidas pelo público no programa do apresentador Flavio Cavalcanti. 
As músicas escolhidas foram Casa no campo (Tavito/Zé Rodrix), Amada amante (Erasmo Carlos/Roberto Carlos), Preseda (Jocafi/Antônio Carlos), Naquela mesa (Sérgio Bittencourt), Viagem (João de Aquino/Paulo César Pinheiro), Dona Chica - (Francisca Santos das Flores/Dorival Caymmi), Águas de março (Tom Jobim), Como 2 e 2 (Caetano Veloso), Construção (Chico Buarque) e Testamento (Toquinho/Vinícius de Moraes).

Colaboração: Flávio Leandro de Souza

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Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

1 comentários:

  1. O Maestro Erlon Chaves foi um ícone na cultura e sociedade brasileira.

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