domingo, 5 de outubro de 2014

Nina Simone, cantora, pianista,compositora e ativista pelos direitos civis (1933-2003)

Negros Geniais, Nina Simone, blues, jazz, soul, preconceito racial, ação afirmativa, Rogério de Moura

Eunice Waymon era seu nome de batismo. Criada durante a Grande Depressão em Tryon, na Carolina do Norte, numa família de oito irmãos e pai pastor metodista. Quando criança, foi aluna de uma professora inglesa de piano, Muriel Mazzanovich, ou Miss Mazy, como Nina a chamava.

Nina estava destinada a se transformar na primeira concertista negra de piano dos Estados Unidos. Como seus pais não podiam pagar pelas aulas, foi criado em Tryon uma espécie de fundo para custear seus estudos de piano. Miss Mazy, então, preparou a aluna para seu primeiro recital, em 1944, aos 11 anos, no auditório da Biblioteca Lanier, de Tryon. Foi o estopim do trauma que a acompanhou para o resto da vida.

Os pais vestiram-se como se fossem para a igreja. Chegaram e sentaram-se na primeira fileira. Ao entrar no palco, a futura Nina, furiosa, observou que eles haviam sido deslocados para o fundo da sala. Encarou a plateia e pediu aos organizadores que instalassem os pais num lugar onde pudesse vê-los. Constrangidos, os anfitriões cederam ao pedido, contrariando as leis locais, que garantiam aos brancos a escolha dos melhores lugares.

Foi rejeitada no conservatório musical da Filadélfia. Daquela decepção nasceu Nina Simone, uma das grandes divas do jazz.

Depois desse fracasso sobreviveu em Nova York com trabalhos precários, até que decidiu tentar a vida em Atlantic City, em um bar úmido com o solo coberto de serragem para secar o álcool derramado. Foi onde Eunice se transformou uma noite em Nina Simone. Nina por causa de um apelido pelo qual era chamada por um namorado latino, "Niña", e Simone como homenagem a Simone Signoret, atriz francesa.

A jovem era pianista, mas o proprietário do bar a obrigou a cantar como condição para manter o emprego. A filha da reverenda interpretava a cada noite um repertório que sua mãe sem duvidar teria condenado.
Acompanhada de seu piano foi modulando uma das vozes mais pessoais do século XX, com a qual nos anos 60 e 70 imortalizou temas como "Aint got no - I got life" ou "I wish I know how it would feel to be free", e gravou clássicos como "Here comes the sun", "Just like a woman" e "Suzanne".

Ela pôs sua voz e suas composições ao serviço da igualdade dos negros, como quando gravou em 1963 "Mississipi goddam" ("Maldito Mississipi") para denunciar a violência racista após saber que um jovem ciclista negro tinha morrido por uma surra de um grupo de brancos.

Ela conheceu a fama, mas também o esquecimento, que acabou no final dos anos 80 graças a um anúncio da Chanel Nº 5 que incluía sua versão de "My baby just cares for me".

Nina Simone a considerava uma das canções com a menor importância de sua carreira, mas o tema foi colocado nos primeiros postos das listas europeias, o que permitiu a sua intérprete retornar aos palcos na reta final de sua carreira.

Foi explorada por agentes, empresários, gravadoras. Sofreu com o racismo. No fim da carreira, a voz não era mais a mesma e Nina dava sinais de distúrbio de personalidade, tropeçando nos fios do microfone, falando com a voz empastada dos alcoólicos e deixando a alça do vestido cair como uma decadente diva de melodrama hollywoodiano.

E depois, a "diva rebelde" cumpriu com seu obstinado objetivo de desaparecer deste mundo aos 70 anos, ao morrer enquanto dormia em Carry-le-Rouet, um balneário próximo a Marselha.

Fonte:
Agência EFE



Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

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