quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Teodoro Sampaio, engenheiro, geógrafo, escritor e historiador (1855-1937)


Negros Geniais, Teodoro Sampaio, Rogério de Moura
Teodoro Fernandes Sampaio nasceu em Santo Amaro da Purificação, em 1855. 

Foi tirado da mãe aos 4 anos e levado à cidade de Santo Amaro, na Bahia. Formou-se engenheiro civil em 1876, na segunda turma da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, mas iniciou sua vida profissional como professor e depois como desenhista ainda como estudante, no Museu Nacional. Formado, voltou a Santo Amaro, amparou a mãe e comprou a alforria de três irmãos. Ele obteve sucesso profissional cedo graças à sua capacidade como cartógrafo, desenhista de engenharia e também ao domínio da língua e do conhecimento técnico e científico da época. Afirmou-se em São Paulo e depois em Salvador como engenheiro e construtor. Constituiu firmas para executar grandes obras que projetou, como a rede abastecimento de água e coleta de esgoto de Salvador. Trabalhou por 60 anos como engenheiro e escreveu livros e artigos relacionados à Engenharia, Geografia, Etnologia e História, especialmente de São Paulo e da Bahia. Casou-se três vezes, teve 11 filhos e morreu aos 82 anos.

Teodoro Sampaio é objeto de projeções socioculturais distintas. Às vezes é “embranquecido” e, não raro, também é “enegrecido”. O importante é ir além desses dilemas. Afinal, ele fez de tudo para superá-los, dedicando-se com afinco a questões-chave para a construção do Brasil como país mestiço. Destaco, por exemplo, seu estudo sobre a importância da língua e da cultura tupi para a configuração do território nacional.

Há dúvidas sobre sua paternidade, e esse segredo ele levou para o túmulo – isso, apesar de ter sido amparado economicamente pelo pai. Ele pode ter sido filho do visconde de Aramaré, Antônio da Costa Pinto, a quem sua mãe servia como escrava doméstica, do irmão do visconde, Francisco da Costa Pinto, ou do capelão do engenho Canabrava, Manoel Fernandes Sampaio, que lhe deu o sobrenome. Essa condição e essa trajetória foram provavelmente, o principal motivo de sua inibição em relação à própria origem. Não há escritos seus sobre a questão racial e são raros os momentos em que toca em assuntos como o preconceito. Mesmo assim, ele se fez presente na constituição de um marco da organização do movimento negro no Brasil: o 2.º Congresso Afro-Brasileiro, realizado em janeiro de 1937 no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Sob a sua presidência, o IGHB, que gozava de grande prestígio entre os governantes, profissionais e intelectuais baianos, abriu as portas para a reunião do movimento negro em gestação. Ao abrigar o evento, o IGHB legitimou a avalizou a luta organizada pela causa negra. O encontro chegou a propor a criação de uma entidade que congregasse os terreiros baianos, fazendo surgir a União de Seitas Afro-Brasileiras da Bahia.

Jamais saberemos ao certo e só podemos imaginar o que significava ser negro e conseguir ascender à condição de intelectual em plena vigência do escravismo. Viver entre iguais é uma coisa. Viver e destacar-se como sábio entre os brancos e ser negro é algo bem diferente. Ele devia ser olhado com resignação e desconfiança por negros escravizados e por brancos escravistas – alguém “em quem jamais se pode confiar”. O fato é que Sampaio obviamente discordava do determinismo racial e do cientificismo lombrosiano e suas variáveis, vigentes e comungados por intelectuais contemporâneos, principalmente em Salvador. Foi um dos primeiros a defender a mestiçagem como grande patrimônio étnico e cultural do Brasil. Atuou silenciosamente e de modo irreversível para que os negros fossem considerados, de fatos, iguais. Apesar de monarquista, empenhou-se como poucos na viabilização da República. Jamais deixou, porém, de ser um crítico da ineficácia dos governos e das elites econômicas diante do grande potencial representado pela mestiçagem.

Vários logradouros foram batizados com seu nome, inclusive uma rua no bairro de Pinheiros, São Paulo.

Texto:
Ademir Pereira dos Santos, doutor em Arquitetura e Urbanismo pela USP

Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

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