segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Mary Fields, a primeira negra carteira nos EUA e a segunda mulher norte-americana a trabalhar para o Serviço Postal (1832 aprox. - 1914)

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Mary Fields, foi a primeira negra a trabalhar como carteira nos Estados Unidos e a segunda mulher norte-americana a trabalhar para o Serviço Postal norte-americano.

Pesava 90 quilos, media quase 2 metros de altura, vestia roupas confortáveis, geralmente masculinas, incluindo um gorro de lã e botas. Sempre trazia consigo um revólver amarrado à cintura, debaixo do avental.

Embora tivesse um gênio indomável, 'Black Mary’ conquistou o respeito dos habitantes da cidade de Cascade, uma pequena cidade que cresceu na rota ferroviária Montana Central, entre Helena e Great Falls.

Admirada e respeitada em uma região onde todas as probabilidades estavam contra ela, em uma época em que os afro-americanos e mulheres de qualquer raça tinham pouquíssima liberdade em qualquer parte do mundo, Mary Fields gozava de mais liberdade do que muitos homens brancos.

Apostava com qualquer homem do território de Montana que conseguiria derrubá-lo com apenas um soco. Não perdeu nenhuma aposta. 

Nasceu escrava, em Hickman County, Tennessee. Alforriada depois da Guerra Civil, mudou-se para o Mississipi, onde trabalhou como camareira no barco a vapor “Robert E. Lee”. Na época, houve uma corrida contra o “Natchez Steamboat Bill”, em 1870. Para que o “Robert” corresse mais, os tripulantes jogaram tudo o que tinham em mãos na caldeira. De bacon a barris de resina. Enquanto isso, alguns homens sentavam-se nas válvulas de alívio para aumentar a pressão do vapor. O barco ficou tão quente que os passageiros foram obrigados a correr para as plataformas.

Trabalhou no convento das Irmãs Ursulinas, próximo a Cascade. Com a chegada da ferrovia, ajudou no transporte de suprimentos especiais para o convento. Certa noite de inverno, uma matilha de lobos assustou os cavalos e a carroça virou. Ciente do quanto as freiras dependiam da entrega, montou guarda durante a noite inteira.

As irmãs do convento tentavam amenizar as “diferenças de comportamento” na convivência com Mary convidando-a a participar dos serviços do convento e a praticar a fé católica. No convento, ela lavava roupas e cuidava dos imensos jardins, além de ser responsável pela criação de mais de 400 galinhas.

Um dia, lutou com um gambá que invadiu o galinheiro, matando mais de 60 pintinhos. Gambá morto, arrastou-o por mais de uma milha para exibi-lo como troféu para as irmãs.

Apesar do convívio com as freiras, Mary preferia a companhia dos homens rudes da vizinhança, com quem bebia, participava de lutas, fumava charutos e compartilhava histórias sobre armas.

Mary trabalhou no convento por 10 anos. Em 1894, depois de várias queixas e um incidente envolvendo troca de tiros com um homem da região, o bispo ordenou sua saída.

Os nativos norte-americanos a chamavam de "Corvo Branco", porque "ela age como uma mulher branca, mas tem a pele negra." 

Em 1895, aos 60 anos de idade, Mary foi contratada como carteira. Tornou-se, portanto, a segunda mulher e primeira negra norte-americana a trabalhar para o Serviço Postal dos EUA. Nunca perdeu um dia. Sua confiabilidade lhe rendeu o apelido de "Mary Stagecoach" (Maria Diligência). Quando a neve era muito profunda, calçava raquetes de neve e carregava os sacos com as correspondências nos próprios ombros.

No começo do século 20, deixou o Serviço Postal e estabeleceu-se em Cascade como dona de uma lavanderia. Figura pública respeitada na cidade, todos os anos, a prefeitura fechava as escolas para comemorar seu aniversário. Quando o estado de Montana aprovou uma lei proibindo as mulheres de entrarem nos bares, o prefeito de Cascade lhe concedeu uma isenção.

Certo dia, enquanto bebia em um bar local, viu um homem caminhando pela rua e o reconheceu: era alguém que lhe devia US$ 2 por um serviço de lavanderia. Seguiu-o, agarrou-o pela gola da camisa e deu-lhe um soco. Retornando ao bar, declarou: "A conta da lavanderia foi paga!"

Apesar do gênio difícil, Mary teve vários amigos. Um deles, o empresário R.B. Glover que, em 1910, ao alugar o New Cascade Hotel, exigiu que o lugar oferecesse a Mary refeições gratuitas para o resto de sua vida. Em 1912, quando sua lavanderia foi incendiada, os habitantes da cidade se uniram para construir uma nova.

Adotou o time de beisebol de Cascade e, para cada jogo, preparava um buquê de flores, cultivadas em seu próprio jardim, e os oferecia para cada um dos jogadores. Qualquer homem que falasse mal do time ganhava dela um “buquê” de dedos no rosto.

Quando morreu, em 1914, era muito querida por todos da cidade, adultos e crianças. Uma delas era o ator Gary Cooper, que morava na cidade vizinha. Foi enterrada em um pequeno cemitério ao lado da estrada, entre Cascade e Missão de São Pedro.

Baseado em artigo escrito por George Everett e publicado originalmente em Wild West Magazine, em Fevereiro de 1996.

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Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

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