Mary Fields, foi a primeira negra a trabalhar como carteira nos Estados Unidos e a segunda mulher norte-americana a trabalhar para o Serviço Postal norte-americano.
Pesava 90 quilos, media quase 2 metros de
altura, vestia roupas confortáveis, geralmente masculinas, incluindo um gorro
de lã e botas. Sempre trazia consigo um revólver amarrado à cintura, debaixo do
avental.
Embora tivesse um gênio
indomável, 'Black Mary’ conquistou o respeito dos habitantes da cidade
de Cascade, uma pequena cidade que cresceu na rota ferroviária Montana Central, entre Helena e Great Falls.
Admirada e respeitada em uma região onde todas
as probabilidades estavam contra ela, em uma época em que os afro-americanos e
mulheres de qualquer raça tinham pouquíssima liberdade em qualquer parte do
mundo, Mary Fields gozava de mais liberdade do que muitos homens brancos.
Apostava com qualquer homem do território
de Montana que conseguiria derrubá-lo com apenas um soco. Não perdeu nenhuma
aposta.
Nasceu escrava, em Hickman County,
Tennessee. Alforriada depois da Guerra Civil, mudou-se para o Mississipi, onde
trabalhou como camareira no barco a vapor “Robert E. Lee”. Na época, houve
uma corrida contra o “Natchez Steamboat Bill”, em 1870. Para que o “Robert” corresse
mais, os tripulantes jogaram tudo o que tinham em mãos na caldeira. De bacon a
barris de resina. Enquanto isso, alguns homens sentavam-se nas válvulas de
alívio para aumentar a pressão do vapor. O barco ficou tão quente que os passageiros
foram obrigados a correr para as plataformas.
Trabalhou no convento das Irmãs
Ursulinas, próximo a Cascade. Com a chegada da ferrovia, ajudou no transporte
de suprimentos especiais para o convento. Certa noite de inverno, uma matilha de
lobos assustou os cavalos e a carroça virou. Ciente do quanto as freiras
dependiam da entrega, montou guarda durante a noite inteira.
As irmãs do convento tentavam amenizar as
“diferenças de comportamento” na convivência com Mary convidando-a a participar
dos serviços do convento e a praticar a fé católica. No convento, ela lavava
roupas e cuidava dos imensos jardins, além de ser responsável pela criação de
mais de 400 galinhas.
Um dia, lutou com um gambá que invadiu o
galinheiro, matando mais de 60 pintinhos. Gambá morto, arrastou-o por mais de
uma milha para exibi-lo como troféu para as irmãs.
Apesar do convívio com as freiras, Mary
preferia a companhia dos homens rudes da vizinhança, com quem bebia,
participava de lutas, fumava charutos e compartilhava histórias sobre armas.
Mary trabalhou no convento por 10 anos. Em
1894, depois de várias queixas e um incidente envolvendo troca de tiros com um
homem da região, o bispo ordenou sua saída.
Os nativos norte-americanos a chamavam de "Corvo
Branco", porque "ela age como uma mulher branca, mas tem a pele
negra."
Em 1895, aos 60 anos de idade, Mary foi
contratada como carteira. Tornou-se, portanto, a segunda mulher e primeira
negra norte-americana a trabalhar para o Serviço Postal dos EUA. Nunca perdeu um dia. Sua confiabilidade
lhe rendeu o apelido de "Mary Stagecoach" (Maria Diligência). Quando a neve era muito
profunda, calçava raquetes de neve e carregava os sacos com as correspondências nos próprios ombros.
No começo do século 20, deixou o Serviço
Postal e estabeleceu-se em Cascade como dona de uma lavanderia. Figura pública
respeitada na cidade, todos os anos, a prefeitura fechava as escolas para
comemorar seu aniversário. Quando o estado de Montana aprovou uma lei proibindo as mulheres de
entrarem nos bares, o prefeito de Cascade lhe concedeu uma isenção.
Certo dia, enquanto bebia em um bar local,
viu um homem caminhando pela rua e o reconheceu: era alguém que lhe devia US$
2 por um serviço de lavanderia. Seguiu-o, agarrou-o pela gola da camisa e
deu-lhe um soco. Retornando ao bar, declarou: "A conta da lavanderia foi
paga!"
Apesar do gênio difícil, Mary teve vários amigos.
Um deles, o empresário R.B. Glover que, em 1910, ao alugar o New Cascade Hotel,
exigiu que o lugar oferecesse a Mary refeições gratuitas para o resto de sua
vida. Em 1912, quando sua lavanderia foi incendiada, os habitantes da cidade se
uniram para construir uma nova.
Adotou o time de beisebol de Cascade e, para
cada jogo, preparava um buquê de flores, cultivadas em seu próprio jardim, e os
oferecia para cada um dos jogadores. Qualquer homem que falasse mal do time
ganhava dela um “buquê” de dedos no rosto.
Quando morreu, em 1914, era muito querida
por todos da cidade, adultos e crianças. Uma delas era o ator Gary Cooper, que
morava na cidade vizinha. Foi enterrada em um pequeno cemitério ao lado da
estrada, entre Cascade e Missão de São Pedro.
Baseado em artigo escrito por George
Everett e publicado originalmente em Wild West Magazine, em Fevereiro de 1996.
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