sábado, 16 de janeiro de 2016

Jefferson, goleiro e ex-artista circense


Jefferson de Oliveira Galvão, mais conhecido como Jefferson (São Vicente, 2 de janeiro de 1983) é goleiro. passou a infância no interior de São Paulo, nas cidades de São Vicente, onde nasceu, e Assis, onde a mãe Sônia Maria de Oliveira mora e trabalha.

Quem vê o goleiro Jefferson se destacando no Botafogo e na seleção brasileira não imagina as dificuldades que passou até brilhar na carreira. O menino que foi trabalhar em um circo aos 13 anos para não seguir as ‘más companhias’ também precisou vencer o preconceito quando já estava prestes a se profissionalizar no Cruzeiro, em 2000. Por um presente do destino, quem bancou a efetivação no time principal, com apenas 17 anos, hoje divide o mesmo sonho de conquistar a Copa do Mundo do ano que vem: Luiz Felipe Scolari.

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Foto: Marcelo Theobald, Agência O Globo

– Uma pessoa lá do departamento amador (do Cruzeiro) tinha contratado um outro goleiro de Londrina, um alto e loiro. E o Jefferson é preto, grandão. Eles tinham mais predileção para colocar o outro goleiro, porque achavam mais interessante. Eu achava que o Jefferson tinha muitas qualidades, e ele continua mostrando até hoje. Tinha para mim que era o goleiro que eu deveria apostar. E hoje se encontra comigo na Seleção. É sinal que não errei naquela escolha – lembra o técnico.

Jefferson virou referência até para outros goleiros, que vêem nele um exemplo para os que já passaram por algum tipo de situação constrangedora na carreira. Ele conta que alguns rivais já declararam que torcem para que ele brilhe na Seleção por conta disso. Neste sábado, ele foi titular da seleção contra a Coréia do Sul na vitória por 2 a 0, em Seul.

– Já aconteceu de goleiros negros me abraçarem nas partidas antes de dizer: “Já torcia por você. Agora duas, três vezes mais. Que você tenha sucesso para representar a nossa cor e a nossa raça no futebol. Já tive portas fechadas, sei como é”. Não posso dizer que tem ou não (preconceito), mas tudo indica que, sobre os goleiros negros, talvez quando (dirigentes) vão contratar, podem balançar – aponta.

Antes de virar artista no gol do Botafogo, Jefferson aprendeu a pular dentro de um circo. A cama elástica era a melhor amiga. Lá teve de lidar com a plateia e fazer as pessoas rirem, o que futuramente seria importante para alegrar a torcida do Glorioso e dos times que já defendeu. A fase de artista circense precisou ser interrompida quando chegou ao Cruzeiro.

– Foi um momento muito especial na minha vida porque era uma fase em que todos os jovens conhecem coisas ruins. Aparecia bebida, cigarro, noite e eu com mais ou menos 13 anos. Ou ia fazer coisas boas ou seguia o exemplo dos meus outros amigos. Preferi ir para o circo e lá eu fazia de tudo. Tinha cama elástica, perna de pau, bambolê de arco. Como eu vim de uma escola de primos de capoeira, eu gostava muito de fazer esses esportes – contou.

O passado serve de combustível para Jefferson, que tira proveito dos obstáculos para virar exemplo para as três filhas e para os fãs. A boa conduta reafirma a preocupação de transmitir algo importante para os que admiram.

– Hoje eu tenho três crianças, eu sei realmente a importância que tem seus ídolos. E eu sei da minha missão, da minha responsabilidade. Principalmente nesse papel que nós temos de ser goleiro do Botafogo, da seleção brasileira, de poder realmente levar alegria para as crianças. Acho que o momento no circo é assim também e marcou – explica.

Publicado em outubro de 2013 no Globoesporte.com

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De camisa roxa, sonhando em ser jogador de futebol.
Foto: arquivo pessoal



Por

Cineasta, roteirista, cronista, ilustrador, educador, nascido na Vila Santa Isabel, Zona Leste de São Paulo.

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